terça-feira, 31 de julho de 2012

Exercício físico como terapia adjunta no tratamento de doenças oncológicas.

O sedentarismo está diretamente relacionado com o desenvolvimento de diversas doenças, tais como doenças cardiovasculares, pulmonares, metabólicas, alguns tipos de câncer, dentre outras. Além de contribuir na prevenção do desenvolvimento de doenças, programas de exercícios físicos também desenvolvem um importante papel na reabilitação de lesões, como uma terapia adjunta em casos clínicos. Pesquisas envolvendo programas de exercícios físicos apontam benefícios extremamente satisfatórios no que se refere à saúde, capacidade física e reabilitação de pacientes com doenças crônicas. Um programa de reabilitação física visa contemplar melhoras na capacidade funcional do indivíduo, resultando em benefícios para a qualidade de vida.

Um campo importante de estudo na medicina esportiva diz respeito às ações do exercício físico na reabilitação de doenças oncológicas. O câncer é um grupo de doenças coletivamente caracterizadas por um crescimento anormal de células, existindo mais de 100 tipos da doença, divididos em carcinomas (desenvolvido em células epiteliais, glândulas e órgãos internos), leucemias (desenvolvido nas células sanguíneas), linfomas (sistema imune) e sarcomas (tecidos muscular, ósseo, tendíneo, cartilaginosos e gordo). Para o tratamento destas doenças três modalidades terapêuticas podem ser utilizadas (cirurgias, radioterapia e quimioterapia) e cada uma delas tem características específicas e contribuem para o desgaste do organismo. As principais consequências destes tratamentos são a perda de massa corporal, diminuição do nível energético e perda de capacidade funcional.
Utilizando um protocolo de reabilitação física para paciente em tratamento para o câncer, que consistia em 6  semanas de caminhada em esteira rolante, numa intensidade de 80% da frequência cardíaca de pico (aferida em um teste de esforço), onde nas primeiras 3 semanas eram realizadas caminhadas de 3 minutos com 3 minutos de descanso, pesquisadores encontraram importantes resultados. Os 5 pacientes envolvidos no estudo apresentaram aumento na velocidade de treinamento, distância percorrida e desempenho máximo. Além disto, os efeitos benéficos de um programa de reabilitação física nestas situações estão relacionadas com a diminuição dos níveis circulantes de glicose sanguínea e insulina, aumentos dos níveis de hormônios corticoesteroides, de citocinas anti inflamatórias, da produção de interferons, da estimulação da enzima glicogênio sintetase, da função leucocitária, dentre outros.
Apesar de ainda não haver consenso sobre um programa de reabilitação física ideal, pesquisas sugerem que a realização de treinamentos de 3 a 5 dias na semana, numa intensidade de 60 a 80% da frequência cardíaca e pico, com atividades que envolvam grandes grupamentos musculares (p.ex. caminhar e pedalar), com uma duração de 20 a 30 minutos contínuos (alcançados com progressões de treinamentos intervalados até o treinamento contínuo) são mais eficazes do que sessões de treinamentos mais intensas. A progressão do treinamento pode não ser linear e deve depender das fases de tratamento do paciente.
São vários os benefícios oferecidos pelos programas de exercícios físicos para pessoas em tratamento contra o câncer. Desta forma, o exercício físico deve ser considerado como um importante aliado na terapêutica destas doenças.

Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS


terça-feira, 24 de julho de 2012

Dinâmica das cargas de treinamento: aspecto determinante na preparação desportiva.


O processo de preparação desportiva, independente do nível do aluno/atleta, envolve aspectos importantes da teoria do treinamento desportivo. É de suma importância conhecer os princípios pedagógicos, os quais estão relacionados com a atitude, consciência, caráter e personalidade bem como dos princípios específicos do treinamento físico, que dizem respeito ao desenvolvimento das características essenciais inerentes à modalidade desportivo. Além disto, é importante determinar os objetivos a curto, médio e longo prazo, de acordo com a condição física e psicológica do indivíduo. Determinadas as metas, deve-se traçar a metodologia para alcançar tal resultado. Neste ponto, um aspecto importante é a dinâmica das cargas de treinamento, nas diferentes fases da preparação desportiva.
A dinâmica das cargas de treinamento pode ocorrer de forma escalonada, com aumento de volume e intensidade na forma de degraus, ou de forma ondulatória. Na primeira situação, os aumentos das variáveis de treinamento ocorrem em períodos estritamente demarcados e localizados no tempo, com um período de estabilização e adaptação mais longo. Na segunda situação o volume e a intensidade das cargas sofrem diminuições periódicas antes de um novo pico de carga. Duas formas de manipular as cargas de treinamento, mas quando utilizá-las? Quando é mais adequado o uso de uma ou de outra?
Nas primeiras fases de preparação desportiva, a primeira forma de dinâmica das cargas é preferível, pois é necessário garantir uma graduação especial no desenvolvimento das influências das cargas. Entretanto, para indivíduos em fases avançadas de preparação e que desejam alcançar resultados superiores, a utilização da dinâmica das cargas ondulatórias pode oferecer maiores benefícios. Esta dinâmica é interessante porque oferece sessões de treinamentos e microciclos com cargas elevadas seguidos de sessões de treinamentos que permitem a prevenção do acúmulo excessivo dos efeitos das cargas crônicas, ou seja, um papel profilático desempenhado por uma fase de "descarga". Na dinâmica ondulatória, as cargas de treinamento no processo de preparação desportiva apresentam três formas:
  • Curtas: cargas ondulatórias nos microciclos (semanas) de treinamento.
  • Médias: cargas expostas em uma série de microciclos, compondo o treinamento mensal (mesociclo).
  • Longas: cargas que se manifestam em séries de ciclos médios que compõem etapas e períodos do macrociclo; temporada de treinamento e competições.
Na literatura encontram-se diferentes percepções em relação à característica ondulatória das cargas. Alguns autores defendem dinâmicas em "saltos" ou "retilínea", entretanto, apesar das diferentes metodologias de treinamento desportivo, de forma alguma deve-se abrir mão dos aspectos básicos de sua teoria. Conheça bem seu aluno/atleta, determine objetivos claros e programe um treinamento eficiente baseado em evidências práticas e científicas. Com paciência e determinação os resultados são alcançados. Bons treinos! 



Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Treinamento de flexibilidade: importante aliado no desempenho desportivo.


A flexibilidade músculo-articular é um componente importante da capacidade física do organismo humano e o seu grau de treinamento determina a amplitude na execução de movimentos desportivos. O aprimoramento desta capacidade durante a preparação desportiva pode auxiliar na prevenção de lesões musculares e proporcionar melhora na qualidade dos movimentos específicos do desporto a ser praticado. Além disto, exercitar a flexibilidade músculo-articular pode ser um importante aliado no treinamento da coordenação de movimentos.
A flexibilidade pode ser treinada através de diferentes metodologias, as quais devem ser selecionadas e prescritas de acordo com a necessidade específica do aluno e/ou atleta. Em desportos como ginástica desportiva, caratê, patinação artística, dentre outros, a amplitude músculo-articular é um componente essencial para a obtenção de resultados competitivos. Por outro lado, lançadores de dardo, corredores de provas com obstáculos e barreiras no atletismo, necessitam de maiores níveis de flexibilidade em músculos e articulações específicas, como nas articulações escapulares (lançadores) e articulações ilíacas (corredores). Os atletas de esportes cíclicos (p.ex. maratonistas, ciclistas, dentre outros) podem ser beneficiados com a redução de lesões, melhora na coordenação de movimentos e aumento da amplitude das passadas.
Antes das sessões de treinamentos, os exercícios de alongamentos podem ser utilizados com menor intensidade e duração, entretanto, estes exercícios não são indicados antes de sessões intensas de treinamentos específicos (p.ex. treinamento de força máxima, força explosiva, resistência anaeróbia, dentre outros), pois podem prejudicar a geração de força e a obtenção de desempenhos elevados. Após as sessões de treinamento, podem ser realizados alongamentos passivos (com o auxílio do treinador, de outro atleta, extensores elásticos), uma vez que a elasticidade muscular está elevada. Mais uma vez, após as sessões de treinamento intensas os alongamentos podem ser prejudiciais, uma vez que podem ocorrer lesões musculares ao estirar o músculo fadigado.
O maior desenvolvimento da flexibilidade músculo-articular é adquirido através de sessões de treinamentos específicos para esta capacidade física. Reservar um período do dia, em um turno contrário à sessão de treinamento usual, para treinar a flexibilidade é a melhor escolha. Assim, métodos específicos e que permitem maior obtenção da amplitude músculo-articular (p.ex. métodos passivo dinâmico, passivo estático, facilitador neuromuscular proprioceptivo) podem ser aplicados. Deve-se ter precaução ao realizar exercícios de alongamento e sempre buscar o trabalho de um profissional. Bons treinos a todos.

Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Meias de compressão e corrida: investimento importante ou vaidade?

O aumento exponencial da popularidade da corrida estimulou e continua estimulando as empresas de materiais esportivos a desenvolverem roupas e equipamentos produzidos com materiais especiais com a premissa de melhora na performance, na recuperação após treinos e/ou provas, ou ao menos no conforto durante as passadas. Muitos dos acessórios criados ajudam muito a encarar os diferentes tipos de provas oferecidas aos corredores, além de oferecer opções para que estes atletas, amadores ou não, suportem de maneira mais confortável as adversidades climáticas durante as diferentes estações do ano.
As meias de compressão estão sendo disponibilizadas ao grande público há um bom tempo. Os fornecedores destas meias apontam que elas oferecem benefícios na performance, na recuperação e na prevenção de lesões. Tudo isso seria possível devido a redução na concentração de lactato durante e pós a corrida, redução do percentual da frequência cardíaca máxima durante o esforço, diminuição dos níveis plasmáticos de biomarcadores de lesão muscular, redução da vibração tecidual durante as pisadas, dentre outros benefícios que teoricamente seriam gerados pela compressão em torno de 20 a 30 mmHg oferecida pelas meias.
Algumas ressalvas são necessárias para que decepções ou gastos desnecessários não ocorram. Pesquisas científicas ainda não conseguiram descrever resultados expressivos com a utilização das meias de compressão. Estudos importantes foram publicados já no ano de 2007 e desde lá pouco se concluiu. Alguns pesquisadores demonstraram que a utilização das meias de compressão contribuiu para um menor VO2 para uma mesma carga de esforço em relação aos indivíduos que não utilizaram, menor percentual de frequência cardíaca máxima durante a corrida, retardo no surgimento de dores durante o esforço, diminuição da concentração de lactato após a corrida e redução da dor muscular tardia. A razão para tais resultados é um melhor fluxo sanguíneo e melhor perfusão tecidual, o que gera melhora na nutrição e remoção de metabólitos produzidos pelo músculo durante treinamentos e provas.
O fator mais relevante e de maior importância, a performance na corrida, não foi alterado com a utilização das meias, ou seja, o indivíduo terá o mesmo tempo de prova com ou sem o uso deste acessório. Assim, investir ou não nas meias de compressão se torna uma decisão exclusiva do atleta/aluno. Acredito que o grande determinante é a determinação nos treinamentos e a metodologia de treinamento correta para alcançar as metas.

Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS