Eu muito critico o sistema de desenvolvimento desportivo
brasileiro. Os problemas da nossa política esportiva são antigos e pouco se fez
(se é que se fez) para alterá-los. As carências são gritantes, desde a formação
do profissional que irá trabalhar na iniciação e especialização esportiva dos
jovens atletas até as políticas governamentais e privadas que sustentam e
“promovem” o esporte nacional.
Motivado por três dos últimos quatro textos (ótimos textos,
como sempre) publicados pelo Fernando Meligeni em seu blog na ESPN, um falando
sobre a decisão de jovens atletas em parar de estudar para se dedicarem aos
treinamentos, outro sobre o abandono das quadras do Tiago Fernandes, atleta
extremamente promissor de apenas 21 anos, campeão juvenil do Australian Open e
que decidiu se dedicar apenas aos estudos, e o último sobre a dura transição
dos jovens tenistas quando pulam do juvenil e caem no circuito profissional,
resolvi tentar embasar a minha crítica.
Do ponto de vista do treinamento desportivo podemos explicar
grande parte do desenvolvimento e do sucesso da carreira de um atleta. Esta
ciência se baseia no planejamento de sistemas de métodos distribuídos em
períodos distintos na intenção de alcançar objetivos específicos a cada fase da
preparação. Sustentado por conceitos teórico práticos, são traçadas metas a
curto, médio e longo prazo. Resumindo: qual tarefa a ser feita? O que é
necessário para cumpri-la?
O desenvolvimento de um atleta, da sua iniciação até o
resultado desportivo superior, apresenta sete níveis:
- Preparação em longo prazo.
- Ciclo olímpico
- Ciclo anual
- Macrociclo (períodos superiores a 8 semanas)
- Mesociclo (3 a 6 semanas)
- Microciclo (3 a 14 dias)
- Sessão de treino
- Resultado desportivo
O planejamento da preparação em longo prazo é o ponto chave
do sucesso desportivo. É neste momento que se inicia a formação de um atleta de
nível mundial e olímpico. Neste ponto onde mora nossa maior carência.
Cada vez mais os resultados se tornam superiores, o que
demonstra a importância de anos de preparação. Leis biológicas fundamentais
apontam que períodos sensíveis de desenvolvimento esportivo existem, e
conhece-los é imprescindível. Já são bem estabelecidos os limites etários
otimizados, ou seja, faixas etárias quando os resultados superiores são obtidos.
Com exceção de poucos esportes, a idade em que os atletas atingem os melhores
desempenhos tem se mantido estável nas últimas três décadas (p.ex.: 100m rasos
masculino, 22 a 24 anos; 10.000m masculino, 24 a 26 anos).
Tendo como ponto de partida estes parâmetros é possível
prever o tempo de preparação para se chegar a tais resultados e
consequentemente a idade ótima para se iniciar em determinado desporto.
A preparação em longo prazo requer cautela para uma formação
consistente do atleta. Mais importante que o resultado em idades menores é
alcançar os objetivos propostos para cada fase, o que não significa ser o
melhor naquele momento. Crucial é formar um atleta respeitando as fases
sensíveis de desenvolvimento esportivo, permitindo sua maturação psicofisiológica
para que futuramente ele tenha sustentação para atingir o resultado superior.
Isso não significa, de forma alguma, o abandono dos estudos para se dedicar
inteiramente ao esporte. Não significa também que não será possível surgir
atletas sem esta formação toda e que se tornem referência mundial, mas com certeza
com uma formação planejada em longo prazo e com base política para que isso
ocorra, teremos muito mais atletas com resultados importantes em idades
adultas.
Nesta semana começaram em Nanquim, na China, os Jogos
Olímpicos da Juventude. Competição importante, mas é preferível levar atletas
até lá para utilizar a competição mais como ferramenta de formação do que
valorizar ao máximo o êxito esportivo.
Abraço e até breve o/
Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS