terça-feira, 7 de agosto de 2012

Atletas e treinadores brasileiros: vítimas de um sistema de desenvolvimento esportivo precário.


Faltando pouco menos de uma semana para o final dos Jogos Olímpicos de Londres, muito se fala sobre o desempenho dos atletas e equipes brasileiras. Acredito que devemos ter cautela ao criticarmos ou elogiarmos o desempenho do nosso país nos Jogos deste ano e que os profissionais envolvidos e graduados no esporte devem exercer um papel primordial, alertando àqueles que não são diretamente relacionados com o desporto de alto rendimento. Neste contexto, como atleta amador e como treinador, eu gostaria de aproveitar este momento para tentar entender nossos resultados olímpicos e criar uma relação com experiências que vivi em um país tido como referência mundial na área do treinamento desportivo de alto rendimento. Não quero aqui fazer críticas aos atletas, treinadores e equipes, muito pelo contrário, pois penso que nosso país está muito bem representado.
Em janeiro de 2009 tive a oportunidade de realizar um curso de treinamento desportivo de alto rendimento na Universidade Estatal de Cultura Física, Esporte e Turismo da Rússia. Estive lá por aproximadamente 12 dias (dias letivos) e tive a honra de conhecer importantes pesquisadores, treinadores e atletas russos, bem como o sistema de desenvolvimento esportivo daquele país. Para começar, todas as vertentes de preparação desportiva olímpica (escolas de iniciação esportiva, centros de formação de atletas e centros olímpicos de treinamento) são vinculadas à Universidade Estatal, uma herança positiva do comunismo que durou até meados de 1990. Esta Universidade, que estuda apenas assuntos relacionados ao esporte, possui atualmente cerca de 50.000 especialistas de mais de 115 países, 550 professores, sendo 7 membros da Academia de Ciência da Rússia e 40 treinadores eméritos, dentre outros profissionais.
Além de um quadro de preparação acadêmica invejável, encontramos pelo país diversas escolas de iniciação esportiva, centros de formação de atletas e centros olímpicos de treinamento. Na escola de iniciação esportiva o aluno tem a liberdade de experimentar qualquer atividade esportiva, de forma lúdica, que tiver interesse Ao completar 7 ou 8 anos, se lhe agradar um esporte em específico o aluno pode ser encaminhado a um centro de formação de atletas coerente com o esporte escolhido. Lá ele é preparado de forma específica até atingir a idade de 17 anos, quando então é transferido para um centro olímpico de treinamento. Toda a vida esportiva do atleta, desde sua entrada na escola de iniciação é registrada de forma minuciosa, o que permite um acompanhamento sem erros e um direcionamento de treinamento perfeito.
Aprendi lá que todos os atletas são reconhecidos e premiados independente do esporte que praticam, o que até hoje gerou mais de 250 grandes campeões mundiais e mais de 100 grandes campeões olímpicos. Vale lembrar, toda a estrutura vinculada à Universidade, permitindo um desenvolvimento desportivo na teoria e na prática perfeito (sim, ouvi de um chefe de centro de formação de atletas: "não tem como dar errado...").
Economicamente a Rússia é hoje muito parecida com nosso país, diferenciando-se por um PIB per capita um pouco mais elevado, um índice de alfabetização de 99%, enquanto nós temos em torno de 90%, e alguns outros aspectos. Talvez em outros quesitos, quero deixar claro que não domino assuntos econômicos, o Brasil seja mais desenvolvido. Sendo assim, o problema não é na economia e sim no sistema.
Aos atletas e treinadores brasileiros, meus parabéns. Os resultados destes seres humanos são surpreendentes tendo em vista o precário sistema de desenvolvimento esportivo brasileiro que lhes é oferecido. Naquela época ouvi de um dos mais importantes especialistas do treinamento desportivo que sem mudar o sistema, o Brasil não sairia do lugar. Esta pessoa também contou-nos que o Comitê Olímpico Brasileiro estava disposto a implantar algo semelhante ao que é realizado na Federação Russa. Aguardamos pelo próximo ciclo olímpico e pelos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Até lá, bons treinos e sucesso aos nossos heróis.

Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS


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