quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Treinamento de força na terceira idade: determinante da qualidade de vida.

Sábado conversava com meu pai sobre a vontade de iniciar um programa de exercícios físicos para ele. Do alto dos seus 77 anos de idade, ele descreve magnificamente suas experiências juvenis, mostrando uma memória infalível.  Como consequência de uma vida relativamente regrada, exibe um corpo esguio e elegante. Por outro lado, a força para subir as escadas com algumas sacolas de supermercado na mão, a resistência para caminhar algumas quadras até o mercado, a habilidade para cuidar do jardim e até mesmo a ação de elevar as mão acima da altura dos ombros para lavar seus cabelos grisalhos já estão prejudicadas.
A produção de força muscular tem seu desenvolvimento máximo entre os 20 e 30 anos de vida, permanecendo estável ou declinando gradativamente durante os 20 anos seguintes. Na sexta década de vida esta valência física apresenta graus de declínio mais acentuados, sendo que nas mulheres esta perda na capacidade de produção de força pode acontecer ainda mais cedo, entre os 40 e 50 anos de idade. Alguns pesquisadores apontam uma diminuição anual da capacidade de produzir força muscular em torno de 3% para homens e 5% para mulheres. Estas características inerentes ao processo normal de envelhecimento estão intimamente relacionadas com a qualidade de vida na terceira idade. Pesquisas científicas apontam mudanças musculoesqueléticas senescentes, acúmulo de doenças crônicas, medicamentos necessários para tratar doenças, atrofia por desuso, subnutrição, reduções nas secreções hormonais e alterações no sistema nervoso como os principais fatores associados à fraqueza muscular em idosos. Entretanto, a diminuição da força muscular pode ser atenuada com a inserção de programas de exercícios físicos no cotidiano dos idosos, trazendo benefícios importantes que podem melhorar a motivação e a qualidade de vida, prolongando a expectativa de vida.
Idosos podem desenvolver a capacidade de produção de força muscular. Halterofilistas seniores acima de 65 anos de idade são capazes de levantar mais de 200 kg no agachamento e cerca de 160 kg no supino, representando a eficácia do treinamento de força muscular nesta faixa etária. Pesquisadores descreveram que indivíduos com idade acima de 90 anos apresentaram aumentos de força muscular com um período de treinamento de 8 semanas. Além disto, achados científicos importantes descreveram que indivíduos mais velhos são capazes de realizar treinamentos resistidos intensos, com cargas equivalentes ou maiores a 80% de 1RM (uma repetição máxima). Treinamentos de força com cargas muito leves parecem não estimular o desenvolvimento desta capacidade física, entretanto, cargas intensas não devem ser utilizadas em todas as sessões de treino.
Programas com três dias de treinamento por semana com carga de 80% de 1RM em cada sessão ou com cargas regressivas de 80, 65 e 59% de 1RM em cada sessão foram eficientes em aumentar a força muscular e o conteúdo de massa corporal magra em homens e mulheres com idade de 61 a 77 anos.
Independente da idade o importante é iniciar o processo de treinamento físico. Benefícios importantes podem ser alcançados com treinamentos devidamente prescritos e periodizados de acordo com a condição do aluno. Vamos treinar, não importa quando. Por uma vida melhor!

Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Importância do exercício físico no tratamento adjunto de doenças, distúrbios e deficiências neuromusculares.


Os programas de exercício físico como tratamento adjunto de doenças são de fundamental importância e contribuem muito para a melhora do quadro geral do paciente. Neste sentido, não são raros os casos de indivíduos acometidos por doenças, deficiências e distúrbios neuromusculares que são submetidos a programas de reabilitação física. O acidente vascular cerebral (AVC), a esclerose múltipla (EM) e a doença de Parkinson (DP) são alguns casos em que o paciente pode ter seu quadro atenuado com a inserção do exercício físico no seu tratamento.
O AVC é um evento que está relacionado com a redução potencialmente fatal do fluxo sanguíneo cerebral (AVC isquêmico) ou com o rompimento de vasos sanguíneos cerebrais, causando uma hemorragia (AVC hemorrágico). As características clínicas do AVC dependem da localização e da severidade da lesão, entretanto, estão relacionadas com danos físicos (hemiplegia - paralisia de um lado do corpo; ou hemiparesia - paralisia parcial de um lado do corpo) e cognitivos. A EM representa uma doença crônica, caracterizada pela destruição da bainha de mielina que envolve as fibras do sistema nervoso central. Nesta patologia algumas características clínicas são: fadiga elevada, ataxia (movimentos involuntários dos membros inferiores e superiores), disfasia (problemas na fala), dentre outros. A doença de Parkinson faz parte de um grupo de condições chamadas distúrbios do sistema motor. Alguns sintomas clínicos desta doença incluem diversos graus de tremor, redução na espontaneidade e movimentação, rigidez e danos aos reflexos posturais.
Programas de exercício físico para pacientes acometidos por um AVC devem contemplar, nos primeiros 6 meses de recuperação, exercícios de reabilitação de movimentos, os quais incluem exercícios assistidos de flexibilidade ativos e passivos. Apesar da escassez de estudos relacionados a este tema, pesquisas apontam que o exercício físico contribui para a independência motora e funcional, bem como previne ou reduz demais doenças e distúrbios funcionais.
Programas de exercícios físicos que contemplem atividades aeróbicas, força, coordenação e flexibilidade são extremamente importantes no tratamento adjunto da EM. Entretanto, alguns aspectos devem ser rigorosamente controlados. Pacientes com EM possuem um tolerância muito baixa ao calor causado pelas condições ambientais ou pela termogênese induzida pelo exercício. Desta forma são indicados locais de temperatura controlada, que possibilitem a manutenção da temperatura corporal e locais para descanso frequente. Estes pacientes possuem capacidade de melhora cardiovascular preservada, o que torna possível e indicada a prescrição de exercícios aeróbicos em ciclo ergômetro, caminhadas, exercícios na água (piscina). Segundo alguns estudos, são indicadas 3 sessões de exercícios por semana, com duração mínima de 30 minutos, divididos em 3 períodos de 10 minutos.
Pacientes com DP podem ser beneficiados com a prescrição de exercícios de movimentos controlados e lentos. Exercícios estáticos de flexibilidade, treinamento de equilíbrio e caminhada, exercícios de mobilidade e/ou coordenação oferecem importantes benefícios para estes pacientes.
Além de todos os benefícios à capacidade funcional dos indivíduos, acredito que a principal importância dos programas de exercícios físicos direcionados ao tratamento de doenças é o aumento da motivação para continuar lutando. Muita saúde de bons treinos a todos.

Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Atletas e treinadores brasileiros: vítimas de um sistema de desenvolvimento esportivo precário.


Faltando pouco menos de uma semana para o final dos Jogos Olímpicos de Londres, muito se fala sobre o desempenho dos atletas e equipes brasileiras. Acredito que devemos ter cautela ao criticarmos ou elogiarmos o desempenho do nosso país nos Jogos deste ano e que os profissionais envolvidos e graduados no esporte devem exercer um papel primordial, alertando àqueles que não são diretamente relacionados com o desporto de alto rendimento. Neste contexto, como atleta amador e como treinador, eu gostaria de aproveitar este momento para tentar entender nossos resultados olímpicos e criar uma relação com experiências que vivi em um país tido como referência mundial na área do treinamento desportivo de alto rendimento. Não quero aqui fazer críticas aos atletas, treinadores e equipes, muito pelo contrário, pois penso que nosso país está muito bem representado.
Em janeiro de 2009 tive a oportunidade de realizar um curso de treinamento desportivo de alto rendimento na Universidade Estatal de Cultura Física, Esporte e Turismo da Rússia. Estive lá por aproximadamente 12 dias (dias letivos) e tive a honra de conhecer importantes pesquisadores, treinadores e atletas russos, bem como o sistema de desenvolvimento esportivo daquele país. Para começar, todas as vertentes de preparação desportiva olímpica (escolas de iniciação esportiva, centros de formação de atletas e centros olímpicos de treinamento) são vinculadas à Universidade Estatal, uma herança positiva do comunismo que durou até meados de 1990. Esta Universidade, que estuda apenas assuntos relacionados ao esporte, possui atualmente cerca de 50.000 especialistas de mais de 115 países, 550 professores, sendo 7 membros da Academia de Ciência da Rússia e 40 treinadores eméritos, dentre outros profissionais.
Além de um quadro de preparação acadêmica invejável, encontramos pelo país diversas escolas de iniciação esportiva, centros de formação de atletas e centros olímpicos de treinamento. Na escola de iniciação esportiva o aluno tem a liberdade de experimentar qualquer atividade esportiva, de forma lúdica, que tiver interesse Ao completar 7 ou 8 anos, se lhe agradar um esporte em específico o aluno pode ser encaminhado a um centro de formação de atletas coerente com o esporte escolhido. Lá ele é preparado de forma específica até atingir a idade de 17 anos, quando então é transferido para um centro olímpico de treinamento. Toda a vida esportiva do atleta, desde sua entrada na escola de iniciação é registrada de forma minuciosa, o que permite um acompanhamento sem erros e um direcionamento de treinamento perfeito.
Aprendi lá que todos os atletas são reconhecidos e premiados independente do esporte que praticam, o que até hoje gerou mais de 250 grandes campeões mundiais e mais de 100 grandes campeões olímpicos. Vale lembrar, toda a estrutura vinculada à Universidade, permitindo um desenvolvimento desportivo na teoria e na prática perfeito (sim, ouvi de um chefe de centro de formação de atletas: "não tem como dar errado...").
Economicamente a Rússia é hoje muito parecida com nosso país, diferenciando-se por um PIB per capita um pouco mais elevado, um índice de alfabetização de 99%, enquanto nós temos em torno de 90%, e alguns outros aspectos. Talvez em outros quesitos, quero deixar claro que não domino assuntos econômicos, o Brasil seja mais desenvolvido. Sendo assim, o problema não é na economia e sim no sistema.
Aos atletas e treinadores brasileiros, meus parabéns. Os resultados destes seres humanos são surpreendentes tendo em vista o precário sistema de desenvolvimento esportivo brasileiro que lhes é oferecido. Naquela época ouvi de um dos mais importantes especialistas do treinamento desportivo que sem mudar o sistema, o Brasil não sairia do lugar. Esta pessoa também contou-nos que o Comitê Olímpico Brasileiro estava disposto a implantar algo semelhante ao que é realizado na Federação Russa. Aguardamos pelo próximo ciclo olímpico e pelos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Até lá, bons treinos e sucesso aos nossos heróis.

Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS