segunda-feira, 19 de maio de 2014

Treinamento de endurance de alto rendimento e arritmia cardíaca.

A prática regular de exercício físico promove diversos benefícios para saúde. Já está bem estabelecido que o treinamento físico moderado reduz o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus, bem como contribui para a saúde mental (vide postagem anterior). Tais efeitos positivos são observados tanto em indivíduos que não apresentam histórico de doenças quanto em pessoas com histórico de doenças cardiovasculares.
O treinamento físico promove alterações hemodinâmicas, que alteram as condições de cargas impostas ao coração. Estas alterações dependem basicamente do tipo, intensidade e duração do esporte praticado. Atletas de esportes de longa duração (ciclistas de estrada, corredores de fundo, triatletas, dentre outros) apresentam hipertrofia excêntrica do miocárdio (músculo cardíaco), com aumento do diâmetro do ventrículo esquerdo e direito, aumento das dimensões do átrio esquerdo, aumento da massa cardíaca e espessamento da parede do ventrículo esquerdo. Tais adaptações, juntamente com a fração de ejeção (porcentagem de sangue bombeado pelo coração) preservada, são classicamente conhecidas como "coração de atleta".
Entretanto, não são raros os relatos de eventos cardíaco (p. ex. parada cardíaca), seguidos ou não de morte, em atletas altamente treinados. Atletas de endurance altamente treinados, submetidos a treinamentos extenuantes de forma crônica, podem desenvolver alterações desproporcionais no tecido cardíaco, com aumento da deposição de tecido fibroso, reduções transientes na função, alterações no controle nervoso cardíaco (aumento excessivo do tônus parassimpático) e na condução elétrica, deixando o coração mais suscetível  a arritmias cardíacas.
Pesquisadores observaram que treinamento o de endurance a longo prazo pode promover fibrilação atrial. Um estudo americano relatou que a cardiomiopatia hipertrófica foi a principal causa de morte súbita (26,4%) em jovens atletas nos Estados Unidos. Desta forma, surgem especulações que o treinamento físico de endurance extenuante pode desenvolver uma fonte "arritmogênica".
Uma vida fisicamente ativa é e sempre será importantíssima para uma vida saudável e longeva. Este texto não é escrito na intenção de assustar as pessoas quanto à prática dos esportes de endurance, que tanto nos fascina e apaixona. Escrevo na intenção de alertar as consequências que a busca competitiva pelo resultado esportivo por gerar. Sejam suas metas competitivas ou participativas, eu faço a pergunta: você sabe como está seu sistema cardiovascular? Algum médico cardiologista afirmou, com base em exames, que você é totalmente apto a prática de qualquer atividade esportiva?
O veredito médico é de longe o ponto de partida para o início dos treinamentos esportivos. A partir daí, o trabalho passa a ser também do treinador. Além do ponto de partida, não se esqueça de escutar seu corpo e de se manter atualizado sobre como ele realmente está no que diz respeito às questões cardiológicas.

Bons treinos e uma ótima semana a todos o/

Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS

segunda-feira, 12 de maio de 2014

A importância do exercício físico para o sistema nervoso central.

Remover a ferrugem e reativar algo que sempre gostei de fazer. Nunca deixei de ler e buscar diariamente o conhecimento, mas já faz um tempo que deixei de escrever sobre alguns aspectos importantes relacionados ao exercício físico e suas consequências fisiológicas positivas. Buscando a mesma desenvoltura das primeiras postagens, aí vai.
Há décadas se estuda o importante papel que o exercício físico tem na manutenção e melhora da saúde mental. Depressão, perda de memória e algumas doenças neurodegenerativas tem o desporto como um forte combatente. Até mesmo eventos cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio, apresentam desfechos clínicos mais favoráveis em pessoas fisicamente ativas, as quais possuem comprovadamente uma saúde mental elevada.
Respostas fisiológicas ocorrem e explicam tais benefícios. Submeter o organismo a qualquer estímulo físico (p.ex.: praticar musculação, nadar, correr, pedalar, caminhar, etc) desde que devidamente prescrito e periodizado de acordo com as possibilidades e necessidades de cada indivíduo, promove a liberação de fatores neurotróficos, ou seja, de proteínas que regulam especificamente o desenvolvimento de diversos tipos de células precursoras de neurônios e a manutenção do tecido nervoso. Os fatores mais importantes são o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e o fator de crescimento neural induzível VGF.
O hipocampo é uma estrutura do sistema nervoso central considerada a sede da memória e também uma importante estrutura do sistema límbico, o qual é responsável pelas emoções e comportamentos sociais. Pesquisadores descreveram um aumento da expressão do BDNF nesta estrutura e o aumento dos níveis venosos desta mesma proteína, induzido pelo exercício físico. Consequentemente, é observado um aumento da neurogênese no hipocampo de adultos fisicamente ativos. Este aumento está correlacionado com a capacidade física (VO2máx) e níveis de BDNF circulantes. Melhoras no aprendizado também são observadas, e estas respostas se devem muito pela capacidade de modulação neuronal e da plasticidade axonal estimuladas pelo BDNF. Da mesma forma, o exercício físico aumenta a expressão do VGF, e infusões experimentais deste fator estão altamente relacionados com padrões antidepressivos.
Os benefícios do exercício também se estendem as doenças neurológicas, como Parkinson e Alzheimer. Mais uma vez, o BDNF exerce um importante papel, e pesquisas experimentais apontaram que camundongos que não produziam adequadamente esta proteína, não desenvolviam os mesmos desfechos benéficos causados pelo treinamento físico.
Outros fatores, além dos explanados aqui, possuem um papel importante nos benefícios neurológicos oferecidos pelo exercício físico, entretanto o objetivo foi apenas destacar como uma simples mudança no estilo de vida pode promover alterações tão interessantes. Praticar exercício físico é algo que promove saúde física e mental. Algo que nos faz viver mais e viver melhor. Procure um acompanhamento qualificado e comece a se valer destes benefícios. Quem já o faz, aproveite ao máximo e colha os frutos.

P.S.: Será que existe apetite pelo exercício físico? Será que algumas pessoas desejam mais a prática do exercício do que outras? Componentes genéticos e/ou históricos esportivos de infância podem determinar a vontade de praticar esportes? Aí está um ponto importante e que podemos debater na próxima oportunidade!

Bons treinos e uma ótima semana!

Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS