A prática regular de exercício físico promove diversos benefícios para saúde. Já está bem estabelecido que o treinamento físico moderado reduz o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus, bem como contribui para a saúde mental (vide postagem anterior). Tais efeitos positivos são observados tanto em indivíduos que não apresentam histórico de doenças quanto em pessoas com histórico de doenças cardiovasculares.
O treinamento físico promove alterações hemodinâmicas, que alteram as condições de cargas impostas ao coração. Estas alterações dependem basicamente do tipo, intensidade e duração do esporte praticado. Atletas de esportes de longa duração (ciclistas de estrada, corredores de fundo, triatletas, dentre outros) apresentam hipertrofia excêntrica do miocárdio (músculo cardíaco), com aumento do diâmetro do ventrículo esquerdo e direito, aumento das dimensões do átrio esquerdo, aumento da massa cardíaca e espessamento da parede do ventrículo esquerdo. Tais adaptações, juntamente com a fração de ejeção (porcentagem de sangue bombeado pelo coração) preservada, são classicamente conhecidas como "coração de atleta".
Entretanto, não são raros os relatos de eventos cardíaco (p. ex. parada cardíaca), seguidos ou não de morte, em atletas altamente treinados. Atletas de endurance altamente treinados, submetidos a treinamentos extenuantes de forma crônica, podem desenvolver alterações desproporcionais no tecido cardíaco, com aumento da deposição de tecido fibroso, reduções transientes na função, alterações no controle nervoso cardíaco (aumento excessivo do tônus parassimpático) e na condução elétrica, deixando o coração mais suscetível a arritmias cardíacas.
Pesquisadores observaram que treinamento o de endurance a longo prazo pode promover fibrilação atrial. Um estudo americano relatou que a cardiomiopatia hipertrófica foi a principal causa de morte súbita (26,4%) em jovens atletas nos Estados Unidos. Desta forma, surgem especulações que o treinamento físico de endurance extenuante pode desenvolver uma fonte "arritmogênica".
Uma vida fisicamente ativa é e sempre será importantíssima para uma vida saudável e longeva. Este texto não é escrito na intenção de assustar as pessoas quanto à prática dos esportes de endurance, que tanto nos fascina e apaixona. Escrevo na intenção de alertar as consequências que a busca competitiva pelo resultado esportivo por gerar. Sejam suas metas competitivas ou participativas, eu faço a pergunta: você sabe como está seu sistema cardiovascular? Algum médico cardiologista afirmou, com base em exames, que você é totalmente apto a prática de qualquer atividade esportiva?
O veredito médico é de longe o ponto de partida para o início dos treinamentos esportivos. A partir daí, o trabalho passa a ser também do treinador. Além do ponto de partida, não se esqueça de escutar seu corpo e de se manter atualizado sobre como ele realmente está no que diz respeito às questões cardiológicas.
Bons treinos e uma ótima semana a todos o/
Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS