O treinamento de esportes de longa duração (p. ex. corridas de meio-fundo e fundo, ciclismo de estrada, triatlo, dentre outros) promovem adaptações importantes no organismo, sendo as alterações no sistema cardiovascular uma das mais relevantes. A melhora do desempenho físico através de um treinamento adequado e bem planejado, culmina em resultados esportivos cada vez mais expressivos, estimulando os praticantes a treinarem ainda mais com o intuito de alcançar colocações mais importantes. Entretanto, atenção especial deve ser dada para o acompanhamento e controle das alterações desencadeadas no sistema cardiovascular a medida que o nível de treinamento aumenta, ainda que o atleta tenha realizado todos os exames pertinentes e tenha sido liberado por um cardiologista para a prática esportiva de alto rendimento.
Alterações no nodo sinusal, propriedades eletrofisiológicas atriais e na condução do nodo atrioventricular estão relacionadas com aumento no tônus parassimpático de repouso, tornando os atletas de endurance mais vulneráveis a arritmias cardíacas. Esta condição ainda é pouco estudada, no entanto alguns estudos apontam uma incidência significante em indivíduos bem treinados, com aumento da prevalência de acordo com o aumento da idade e de anos de treinamento.
Alguns dos fatores que possivelmente contribuem para o desenvolvimento de arritmia cardíaca em atletas estão relacionados com o controle autonômico cardíaco e fatores estruturais e metabólicos. O aumento no tônus parassimpático e redução do tônus simpático, resultando em bradicardia durante o repouso é uma característica de indivíduos treinados aerobicamente. Esta condição diminui o período refratário (espaço de tempo no qual o coração não pode ser novamente estimulado) através da diminuição da corrente de influxo através dos canais de cálcio do tipo L. Menos comum, porém de grande importância, tônus simpático exacerbado pode induzir fibrilação atrial durante esforço físico extenuante através do encurtamento do potencial de ação atrial. Uma alteração estrutural importante pode também estar relacionada com desenvolvimento de arritmias cardíacas. Dimensões transversas de átrio direito iguais ou superiores a 40mm estão relacionadas com a ocorrência de fibrilação atrial, sendo os motivos pelos quais esta situação ocorre, ainda não elucidados. Aumentos acentuados de marcadores inflamatórios, principalmente interleucina 6 e proteína c-reativa, em situações de provas e treinamentos intensos também aumentam o risco de desenvolvimento de arritmias cardíacas.
Guias específicos determinam afastamento de treinamentos e competições por pelo menos 3 meses, dependendo o diagnóstico médico. Neste sentido, é preciso ter muito cuidado e paciência para respeitar os limites do organismos e entender que o processo de treinamento desportivo de alto rendimento é longo e que os resultados, por mais que demorem a chegar, com um programa de treinamento físico bem elaborado e com a realização de controles clínicos periódicos, o sucesso sempre chega. Bons treinos!
Me. Bruno R. Berger
ExerScience Assessoria e Consultoria Esportiva
Graduado em Educação Física - Bacharelado
Mestre em Fisiologia Humana (UFRGS)
CREF 014010-G/RS